E SE ANTHONY BOURDAIN VIESSE A LEIRIA?
(img©patricia antonio)
Já
nem sei bem quando, a estrela do Travel Channel, Anthony Bourdain, regressou a
Portugal, desta vez para fazer o programa No
Reservations em Lisboa. Logo que o programa pôde ser visto no youtube, levantaram-se inúmeras vozes de
“especialistas” a criticar o programa. Normal. Parece-me natural que cada um de
nós o pudesse ter levado a muitos outros sítios e a comer outros pratos, mas
quem conhece o programa, sabe que o formato tenta fugir aos habituais locais
turísticos e a ideia passa por conciliar o tradicional com o contemporâneo. Neste
último aspeto acho que acertaram em cheio na escolha dos Chefs: José Avillez, Sá Pessoa e Ljubomir Stanisic estão mais do
que na moda e souberam levar o americano a sítios que eu próprio levaria, como
por exemplo à Cervejaria Ramiro, ao Sol e Pesca, à Tasca do Xico ou à bifana do
Trevo no Largo do Camões (aqui, ao que parece, o Bourdain foi sozinho. Ele tem
olho…). A escolha dos Dead Combo e da Carminho foi também um tiro bem certeiro
para a banda sonora. Mas o que eu gostei mais no programa foi mesmo a cena em
que o Bourdain, no Ramiro, depois de dar uma boa trinca no prego, se vira para
o empregado com um “Awesome!” e o empregado responde com aquela expressão de
como quem diz: “Ah, pois é!.
Mas,
e se o Anthony Bourdain viesse a Leiria? Onde o levaríamos? Já pensaram nisso?
Eu pensei. Deixo-vos com o meu guião para o programa imaginário No Reservations Leiria:
Dia 1
11
e tal da manhã de sexta-feira e recebo o Bourdain no Praça Caffé, na Rodrigues
Lobo. Bebemos uma bica, falamos sobre a bica, olhamos para o Castelo. Digo-lhe
que esse tem mais de 800 anos e que tivemos um Rei chamado D. Afonso Henriques
que gostava muito de distribuir fruta entre Muçulmanos e Galegos. Depois, para
impressionar, conto-lhe ainda a lenda dos corvos.
Chega
a hora do almoço e levo-o ao Liz Bar para comermos um bife na frigideira e bebermos
meia dúzia de imperiais. Está sol, ficamos na esplanada e no fim da refeição
bebemos mais uma bica, uma amarguinha com limão e uns grãos de café e digo-lhe
que é muito típico no Lis Bar acabar a refeição assim. Passamos pelo Colonial
para comprar uma brisas do lis. Vamos até São Pedro de Moel. Na viagem vou
contando a rivalidade que existe entre Leiria e Marinha Grande, o porquê da
indústria vidreira naquela cidade e até lhe conto que o Mário Soares, antigo
presidente da República, levou ali um bom “apertão popular”.
Chegamos
a São Pedro e estacionamos junto à Esplanada do Mar. Damos um passeio por ali,
compramos umas pevides e uns tremoços na praceta e mostro-lhe que afinal as
verdadeiras Pop Corn estão em São
Pedro de Moel e não na América. Voltamos à Esplanada do Mar. Com o mar a bater
na janela viramos uma travessa de percebes. Regressamos a Leiria. O americano está
hospedado no Hotel Eurosol. Deixo-o para uma sesta, digo-lhe que os Xutos &
Pontapés tocaram ali nos anos 80 numa garagem e agora até tocam no Rock in Rio
no mesmo palco do Bruce Springteen. Vou busca-lo mais tarde para irmos comer
bacalhau e costeleta de vitela na brasa. Chegamos ao Jota, na Barreira, e no
café da parte de cima do restaurante bebemos umas Sagres Médias e mordemos uns
tremoços enquanto apreciamos o vai e vem de motorizadas Casal e Zundapp.
Primeiro dia de gravações concluído.
Dia 2
Sábado
dedicado à pesca. Vamos até à Praia do Pedrógão e com a ajuda de uns amigos
pescadores munidos de cana e anzol, lançamos isco ao mar em busca de uns
Robalos (aqui é possível encenar a pescaria, pedindo ao Manel do Casino para
arranjar uns robalos…na televisão é assim…). Subimos pela areia da praia até ao
restaurante do Manel e nas traseiras assa-se um dos robalos, enquanto na
cozinha se prepara outro peixe do género, mas ao sal. Vinho branco da região,
histórias de pescarias e tempestades. Tudo very
typical: até os caracóis e o berbigão à espanhola que escolhemos para
entrada!
Dia 3
Último
dia de filmagens. É Domingo e temos almoço marcado no restaurante Tromba Rija.
Passamos ali horas de volta da mesa (planos e mais planos dos mil e um
petiscos). Uma vasta equipa de ilustres leirienses (a selecionar oportunamente)
conta a história do restaurante, da cidade, da morcela de arroz, e também lhe
contam que o José Mourinho parou ali algumas vezes enquanto treinador da União
de Leiria e que gostava muito de comer salada de orelha.
A
equipa do No Reservations já tem
muito e bom material, mas é preciso ainda filmar uma última cena. Como é
Domingo à noite, vamos até à cervejaria Armando na Guimarota ver os resumos da
bola, com sorte até está a dar o Benfica, e comer umas amêijoas à bulhão pato e
um bitoque. Ambiente empolgado e também ele muito típico.
Antes
de partirem para Nova Iorque, passo à produção do No Reservations uns discos dos Sean Riley & The Slowriders e
dos Nice Weather For Ducks para compor a banda sonora do programa com artistas
da nossa terra. Até parece que estou a ver o Bourdain agarrado à cana de pesca
e a passar “Harry Rivers” do Afonsito (Sean Riley) ou a olhar pela janela do
carro para o pinhal de Leiria e a rodar o tema “2012” dos rapazes da Bajouca.
Era vê-los a chegar ao top do Itunes America em três tempos!
(Texto publicado na rubrica SABOR do Jornal de Leiria no dia 31 de Janeiro de 2013)
(Texto publicado na rubrica SABOR do Jornal de Leiria no dia 31 de Janeiro de 2013)
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