RUMO AO SUL


Já lá vai o tempo em que demorávamos horas e horas a chegar ao Algarve. A empreitada era de tal ordem que pelo caminho os nossos pais tinham de fazer não sei quantas paragens, ora para abastecer a máquina, ora para alimentar a família. Mas era uma maravilha ver aquele desfile de automóveis Peugeot 504 e Mercedes 300 pelas estradas nacionais rumo ao sul. Se de Leiria era o que era, nem quero imaginar a viagem de Trás-os-Montes até ao Algarve num Renault 5 ou noutra viatura semelhante. Mas a coisa fazia-se. O tempo parecia não ter a mesma importância. Quando chegássemos, chegávamos. E é nesse espírito (lento) que proponho este meu roteiro em pleno século XXI, época muito futurista para os anos 80, mas que a bem dizer não é assim tão diferente. Então no que toca a Alentejo…

Vou trocar as voltas ao leitor mais saudosista e em vez de irmos até à Quarteira, Monte Gordo ou Armação de Pêra, cortamos ali na Mimosa, vamos pela Costa Vicentina e só paramos na Carrapateira. Só conheci a Costa Vicentina no princípio dos anos 90 (imagino que a região para os meus pais nos anos 70 e 80 fosse assim um bocado a fugir para o hippie). Desde essa altura que não quero outra coisa no que diz respeito a férias “vá para fora cá dentro”. Portugal é lindo, mas o Alentejo tem um encanto muito especial. Quanto mais não seja por podermos fazer mais de 300 quilómetros sem vermos aqueles mamarrachos típicos de Marco de Canaveses e arredores. Por alguma razão o povo alentejano nunca elegeu um Avelino Ferreira Torres. 

Rolar pelo Alentejo ao nosso ritmo, parando aqui e ali para beber um copo com a malta da boina no café da aldeia, almoçar nas traseiras desse mesmo café umas migas improvisadas ou uma chispalhada com grão, é daquelas coisas que aprecio. Bem, a prosa já vai longa e ainda tenho o tal roteiro para apresentar. Deixo aqui uma série de sugestões para almoçar ou jantar numa linha com algumas curvas que vai de Alcochete até à Carrapateira. Agora fica à vontade do freguês escolher a paragem que lhe dá mais jeito:

AI CARAMBA

Em Alcochete, vila castiça e muito dada a touros, podia sugerir o Alcochetano, o Barrete Verde ou o Arrastão, tudo restaurantes de primeira classe, mas desta vez recomento o Ai Caramba pelas sardinhas assadas. Assador na rua, mesas espalhadas pelo passeio e praceta sem fronteiras definidas – há sempre lugar para mais um – este restaurante tem um serviço impecável e as sardinhas são daquelas que pingam na grelha e com o sal na medida certa, ou seja, em abundância. O serviço é dos bons e o vinho tinto da casa recomenda-se. Para rematar a refeição, o melhor é pedir uma mousse de chocolate com cheirinho de Macieira. Durma a sesta no miradouro da Amália e só depois siga caminho.

Rua Comendador Estêvão de Oliveira, n.º 11
Alcochete
212 341 097

CANAL CAVEIRA

Não para no Canal Caveira desde os tempos do Bloco Central? Então está na altura do caro leitor voltar lá e comer um dos bons cozidos à portuguesa do nosso país, mas tem de ser no Restaurante Canal Caveira, este é que é bom! Com isto das Autoestradas se terem tornado insuportáveis para a maioria das carteiras, mais vale ir pela nacional e gastar o dinheiro das portagens num belo cozido à portuguesa. Segundo dizem, a lebre com feijão branco também é boa, mas ir ao Canal Caveira e não comer cozido é como ir à Meta dos Leitões na Mealhada e pedir jardineira!

Estrada Nacional
Canal Caveira
269 478 168

O JOSUÉ

Não é fácil dar com o Josué. O café-restaurante fica no fundo de uma rua perdida de Longueira, aldeia situada perto de Almograve. No entanto, quem tem “GPS vai a Roma” e, mais cedo ou mais tarde, lá conseguirá encontrar o estabelecimento. Aqui o peixe e marisco são as especialidades da casa com destaque para o sargo assado na brasa com molho de azeite, alho e coentros. Não sei se já terei comido peixe grelhado tão bom como este, salvo os devidos exageros, claro. O arroz de marisco também é bom e os preços são muito “anos 90”, o que também conta. Se não lhe apetecer uma refeição completa, pode sempre mandar vir uns percebes e umas minis a acompanhar. Este é um daqueles sítios com café na entrada e sala de refeições nas traseiras: bom, portanto!

Rua José António Gonçalves, 87 
Longueira
283 647 119

AZENHA DO MAR

Uns quilómetros mais à frente, já perto da Zambujeira do Mar, temos um dos clássicos da região que já não é segredo para ninguém e que continua a ser muito concorrido. Para mal dos nossos pecados, o restaurante Azenha do Mar não aceita reservas. Por isso há que chegar cedo, senão nunca mais. O arroz de marisco é a estrela da ementa e existem algumas razões para que tal aconteça: marisco de boa qualidade, bom tempero e o arroz solto como mandam as regras. Na lista também há peixe fresco e umas sapateiras muito apetecíveis. Ali à volta a paisagem é de sonho e o final do dia na esplanada a beber uma cerveja compensa o tempo de espera.

Praia da Azenha do Mar
Brejão
282947297

PIZZA PAZZA

Em Pedralva, aldeia outrora desabitada perto da Carrapateira, e que só por si merece uma visita, existe uma pizzaria fora de série. Vá-se lá saber porquê, mas um italiano descobriu aquilo e ali se instalou a fazer pizas de massa fina e muito estaladiça, tornando-se num fenómeno com clientes a virem de longe só para comer uma piza – é que são mesmo boas. Os surfistas da zona ajudaram a espalhar a palavra e agora não há por aquelas bandas quem não conheça o Pizza Pazza. Uma nota final para o azeite picante que vai sempre bem com as pizzas ou mesmo com as saladas que também merecem algum respeito.

Pedralva
282639173

SÍTIO DO FORNO / SÍTIO DO RIO

Dois sítios muito importantes a considerar na zona da Carrapateira: o do Forno junto à Praia do Amado com uma vista de cortar a respiração e o do Rio, na Carrapateira, como quem vai para a Praia da Bordeira, com uma cozinha mais elaborada. O primeiro é ideal para beber um refresco ao final da tarde e comer uns petiscos a seguir à praia, enquanto se contempla a tal vista. No segundo, já se pode pedir um estufado de borrego sem medos ou atacar um robalo fresquíssimo na grelha. Ambos os locais são altamente recomendáveis numa região que é, provavelmente, umas das mais bonitas do nosso país.

Sítio do Forno
Praia do Amado
282973914

Sítio do Rio
Estrada da Praia da Bordeira
Carrapateira
282973119

(Texto publicado na rubrica SABOR do Jornal de Leiria no dia 13 de Junho de 2013)

Comentários

Mensagens populares deste blogue

GRAVEOLA E O LIXO POLIFÔNICO COM DISCO NOVO NAS LOJAS A 8 DE OUTUBRO!

A NOSSA PRAIA

LONDON EYE